sábado, 31 de julho de 2010

Bentley Mulsanne: sangue azul de verdade

Como anda o sedã de alto luxo que deve ser vendido no Brasil em 2011

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Bentley Mulsanne, sedã completamente novo, honra a tradição da marca quando o assunto é conforto e desempenho

Tendo entrado nos restritos domínios do Concours d’Elegance de Pebble Beach e feito sua estreia mundial no salão do automóvel de Frankfurt no ano passado, o Bentley Mulsanne agora está pronto para cair na estrada. Nós tivemos a chance de fazer exatamente isso, mas, nesse caso, as estradas eram as pistas estreitas, vias rurais secundárias e rodovias de pistas duplas da terra natal da Bentley no Reino Unido.

Na linhagem da Bentley, o Mulsanne se encaixa exatamente no lugar mais alto, recentemente deixado vago pelo sedã Arnage, um decano da categoria de carros de luxo. Bem, talvez não exatamente no mesmo lugar. O Mulsanne é melhor e sairá por US$ 287.600 (cerca de R$ 517.700) nos Estados Unidos, valor ainda sem a inclusão do imposto americano para carros de alto consumo ainda a ser determinado.

Ele também tem quase 18 cm a mais e pesa os mesmos generosos 2.565 kg. O carrão majestoso, em grande parte feito à mão, roda sobre um entre-eixos cerca de 15 cm mais longo. Em preço, tamanho e foco, o Mulsanne se aproxima de um Rolls-Royce. Na verdade, na maioria das medidas, ele se aninha entre o Rolls Phantom e o novo Rolls-Royce Ghost.

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Visto de traseira, o sedã mostra que segue à risca a identidade visual da marca, com lanternas de cantos arredondados

A Bentley afirma que o Mulsanne é o primeiro veículo inteiramente novo da empresa em oitenta (!) anos, o que quer dizer que ele é o primeiro Bentley que não foi adaptado de outro carro. (O Continental, por exemplo, é feito sobre a plataforma doVolkswagen Phaeton e Bentleys grandes anteriores foram adaptados dos projetos da Rolls-Royce.) Mesmo assim, há alguns itens compartilhados com o Audi A8, tais como a nova transmissão automática de oito velocidades (feita pela ZF) e o sistema de informações e entretenimento, que é baseado na interface multimídia da Audi.

Embora o Mulsanne seja um carro novo, o projeto mecânico é certamente tradicional, muito mais do que na família Continental. Enquanto todos esses carros tenham um motor de doze cilindros em W girando as quatro rodas, o Mulsanne usa a configuração de um enorme V8 e tração traseira do seu predecessor. O V8 com acionamento de válvulas por varetas mantém o mesmo diâmetro e curso, o volume de 6.8 litros e dois compressores mecânicos. Brian Gush, chefe do trem de força e chassi, diz que o motor anterior “era um bom ponto de partida, então nós mudamos o que precisávamos mudar, o que acabou sendo bastante”.

As duas mudanças principais são a adição de deslocamento variável (permitindo ao motor rodar com quatro cilindros quando menos exigido) e tempo variável de abertura de válvulas, o que reduz o nível de rotações onde o torque é máximo. Com 104 kgfm de torque disponível pouco além da marcha lenta, em 1.750 rpm (contra 102 kgfm em 3.200 rpm anteriormente), o V8 é agora um monstro de torque que roda em rotações ainda mais baixas. O pico de potência de 512 cavalos chega em 4.200 rpm, bem próximo da linha vermelha que começa em 4.500 rpm, mais típico de motores diesel, mas isso quase não importa. Com tanta força disponível em rotações tão baixas e com o V8 soltando apenas um leve ronco quando acionado, há poucas razões para explorar as áreas mais altas do conta-giros.

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Motor V8 biturbo tem 512 cavalos e 104 kgfm de torque

A potência fácil é uma parte importante da personalidade desse carro. “Se nós tivéssemos escolhido um V8 da Volkswagen”, observa Stuart McCullough, diretor da Bentley de vendas e marketing, “nós teríamos um motor muito mais ansioso, de altas rotações”.
Se a velocidade máxima (296 km/h) e a arrancada (0 a 100 km/h em 5,1 segundos, de acordo com a fábrica) mascaram os enormes tamanho e peso do carro, o mesmo acontece com o equilíbrio.

O chassi tem suspensão a ar, cuja firmeza pode ser programada pelo motorista, assim como o peso da direção. Um simples seletor rotativo no console alterna entre três modos pré-programados (Sport, Comfort e “Bentley”, a opção padrão), além de um modo personalizado. O modo personalizado permite ao motorista selecionar sua própria combinação de peso da direção e firmeza da suspensão.

Rode rápido e você nunca estará alheio ao fato de que o carro está carregando bastante peso, mas essa barca de luxo não fica balançando para todo lado. Ao longo da fronteira entre Inglaterra e Escócia, onde as estradas estão em condições bem melhores do que as americanas, parecia haver pouca diferença entre as configurações da suspensão, com o Mulsanne mostrando excelente controle da carroceria ao custo de alguma aspereza nos impactos.

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Escultura é sinal de que acabamento é de primeira linha

Selecionar o modo esportivo proporciona esterçamento com peso ideal para esse carro. Nas outras duas configurações, a direção é excessivamente leve sem esforço verdadeiramente progressivo. A configuração mais firme combinada com o amortecimento mais suave pode ser a combinação perfeita na maior parte dos Estados Unidos.

Ainda que o desempenho do Mulsanne seja impressionante, porém, mesmo os executivos da Bentley admitem que, para o público-alvo pretendido de pessoas com “alto poder aquisitivo” (aqueles com ativos passíveis de investimentos de 25 milhões de dólares ou mais), o desempenho não é o que vai ser decisivo. Nesse nível de renda, imagem da marca, aparência e sensação passada pelo carro são supremos.

A Bentley faz grandes esforços para passar uma sensação especial com o Mulsanne, e em nenhum lugar isso fica mais evidente do que no interior. Na maioria dos carros, nós notamos a qualidade dos plásticos; no Mulsanne, não conseguimos encontrar plástico algum. Em vez disso, 390 pedaços de couro, de quinze peças diferentes, cobrem cada superfície visível. Laminados de madeira são dispostos sobre substratos de madeira sólida. Acabamentos de metal são metal de verdade. A ideia é transmitir autenticidade. A textura, e mesmo o cheiro, exalam luxo.

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Interior impecável esbanja equipamentos sofisticados, como sistema de som com 2.200 watts de potência

Ao contrário do Arnage, não há restrições na forma como as coisas funcionam. A interface multimídia é lógica, e o número de botões é exatamente o suficiente para evitar que você fique caçando comandos. O sistema de informações e entretenimento é completamente atual, com um disco rígido de 60 gigabytes, Bluetooth e um novo sistema de som avançado da Naim que oferece 2.200 watts de potência (os quais a Bentley afirma ser a maior potência em sistemas de fábrica). Há conexões para todos os tipos de dispositivos pessoais de áudio e uma gaveta de madeira para guardá-los.

O motorista senta-se atrás de um volante com aro grosso de diâmetro surpreendentemente pequeno. Através dele, vê-se o velocímetro e conta-giros, cuja agulha aponta para baixo a partir de um ângulo de 30 graus, no estilo dos Bentleys clássicos. Um mostrador eletrônico entre eles pode ser configurado para exibir informações do GPS, a velocidade em forma digital ou uma gama de informações do computador de bordo. A visibilidade é bastante boa e pode ser suplementada por um conjunto de câmeras.

Os assentos traseiros em forma de cadeira são mais altos dos que os dianteiros, então os passageiros atrás desfrutam de uma boa visão da frente, sem falar de uma variedade de controles eletrônicos, incluindo regulagem elétrica dos assentos. O espaço para pernas é abundante e o para cabeças é adequado (embora as colunas C sejam um pouco invasivas), mas há pouco espaço para os pés sob os bancos dianteiros.

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Madeira nobre e peças feitas à mão no interior do Mulsanne

Ao se falar dos aspectos práticos desse carro, há muito sobre ele que é irracional, começando pelo fato de que ele simplesmente chegou a ser construído. “O mercado atual não apoia esse tipo de carro”, diz um cândido Franz-Josef Paefgen, presidente da Bentley, “então houve muita discussão sobre se nós iríamos construí-lo”.

Mas, como outro diretor da Bentley coloca, “uma verdade sobre o Grupo Volkswagen é que ele é dirigido por pessoas que realmente amam carros”. E então a Bentley ganhou a aprovação para projetar uma plataforma exclusiva para esse carro, que será construído – lentamente, e na maior parte à mão – em volumes de apenas 800 por ano. É claro, haverá variações.

Um modelo esportivo é mencionado, e um cupê e um conversível (para substituir o Brooklands e o Azure) certamente virão na sequência. Mas esse ainda é um carro cuja imagem é muito mais significativa do que seus números de vendas. “Seu maior trabalho é contar ao mundo o que a Bentley é”, diz McCullough. Nós achamos que ele faz isso excepcionalmente bem.

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