Murciélago LP 670-4 SV: o Lamborghini mais rápido já feito
Com motor de 670 cv, italiano é para se admirar parado ou em movimento
A escuridão chega e o Lamborghini a veste como uma capa sobre um terno na cor Grigio Telesto empoeirado e com marcas de insetos. Depois de um dia evitando motoristas curiosos ensandecidos e tentando (quase literalmente) voar abaixo do radar da polícia, você fica grato por ter como se esconder um pouco.
Ao fim do dia, o perfil obscenamente largo e profusamente angular retira-se anonimamente para o trânsito mais plebeu da rodovia Interstate 15 californiana – de certa forma. De longe, as melhores dicas para identificar o carro talvez sejam os conjuntos triangulares de LED nos faróis e lanternas. Possivelmente, a silhueta elusiva do enorme aerofólio de fibra de carbono brotando por trás da tampa do porta-malas de formas hexagonais como uma espécie de exoesqueleto. Caso alguém se aproximasse o suficiente, você sabe, no escuro.
De sua parte, você fica à distância. Durante as últimas sete ou oito horas, você desenvolveu um espírito distinto ao volante, um que fica o mais longe possível de todo e qualquer tráfego. Isso ajuda a evitar qualquer tipo impensável de incidentes como pedaços de pneus estourados de caminhão rasgando os caros painéis de carbono, ou o ocasional motorista boquiaberto que invade sua pista ao tirar fotos com o celular enquanto inadvertidamente esterça com os olhos. (De verdade, isso acontece com mais frequência do que se imagina.)
Sob a proteção da noite, pode-se sentir inclinado a desbravar a pista da esquerda e desencadear o inferno de 12 cilindros. Mas você tem consciência do que faz. Você roda pela pista em sexta marcha, a agulha do conta-giros mal chegando aos 3000 rpm, um zumbido hipnótico vindo do V12 traseiro reverberando pela cabine em pulsos sucessivos como ondas quebrando em uma praia sônica.
Assentos concha com o encosto fixo feitos em carbono, revestidos em farto couro Alcântara, aninham suas costas. O apoio lateral, mesmo para seu corpo elegantemente esguio, é bem satisfatório, mas, após um dia inteiro dirigindo, suas costas doem. E seu calcanhar direito ficou desconfortavelmente amaciado por servir como ponto de apoio contra um acelerador terrivelmente duro – cutucando, modulando e simplesmente afundando o pé para causar uma eventual crise de riso.
Caso você tivesse dúvidas, o Murciélago LP 670-4 SuperVeloce não é um carro de luxo no sentido tradicional, nem um GT para mauricinhos. Ele é simplesmente o supercarro mais raivoso, sonoramente estranho e rápido que já saiu da linha de montagem da cidade bolonhesa de Sant’Agata. Em todos os tempos. Isso deveria significar muito.
É, quando o Murciélago simplesmente não é escandaloso o suficiente – ou talvez só um pouquinho chique demais – o SV estrategicamente redefine o que quer dizer bruto. Seu motor 6.5 litros produz 670 cv, aumentando em relação aos 649 cv. A agência ambiental americana estima que ele terá um consumo combinado de 4,7 km/l. Ele custa a partir de 450 mil dólares iniciais – antes de adicionar opcionais, transporte e US$ 5.400 do imposto americano para veículos de alto consumo.
Para muitos, a reação inicial a esses números deve ser de horror ou desdém. Possivelmente até mesmo desdém horrorizado. Mas o SV realmente não se importa com inseguranças financeiras de meros mortais. E ele realmente não se importa com o que os outros pensam. Ele apenas quer ser alimentado – de gasolina ou asfalto, quilômetro após quilômetro, de toda e qualquer espécie de insetos, areia ou pedrisco, filhotes de cachorros. (OK, eu inventei essa última.)
Um estereótipo persiste em relação aos compradores de Lamborghinis. Historicamente, há uma camisa de seda com os primeiros botões abertos, um obrigatório tufo de pelos do peito, uma corrente de ouro, uma calça de seda. Para os abastados, o carro pode ser considerado mais um acessório de moda do que um meio de transporte – ele até mesmo já foi anunciado dessa forma pela própria fábrica. A maior injustiça automotiva do mundo talvez seja que 95% desses carros acabarão cumprindo pena passeando a no máximo 70 km/h em alguma rua elegante iluminada com néon como a Ocean Drive em South Beach ou a Sunset Boulevard em Hollywood.
É como colocar um puro-sangue para pastar em um campo de golfe. Errado, até mesmo abusivo.
Mas há algum lugar onde você pode realmente dirigir essa coisa? Nada – ou, mais precisamente, no meio do nada. O deserto da Califórnia parece ideal com suas serras solitárias e longas retas varridas pelo vento.
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