quinta-feira, 24 de junho de 2010

Lamborghini Murcièlago SV: voando baixo

Como anda o superesportivo de 670 cavalos e tração integral da marca italiana

Julia LaPalme
Lamborghini Murcièlago LP 670-4 SV

Rápido! Pegue seu DVD do épico filme de Steve McQueen, “Le Mans”. Avance até a parte perto do final em que o Gulf Porsche 917 de McQueen está perseguindo a Ferrari 512 Nº 8 e aumente bem o volume. Lá está! A tomada em que a Ferrari Nº 8 ultrapassa na última volta o carro Nº 5 que havia batido. Ouça bem... É exatamente assim que a Lamborghini Murciélago LP 670-4 SuperVeloce soa aos 7000 rpm em quarta marcha.

Você estaria viajando em torno dos 260 km/h na Lamborghini de baixa estatura nessas rotações. E você ainda teria duas marchas sobrando. Minha nossa... Este é um supercarro protagonista. Grande. Barulhento. Rápido. A Lamborghini lançou o Murciélago lá em 2001 nas ladeiras do Monte Etna na Sicília. O vulcão fumegava gentilmente quando nós aterrissamos e, enquanto dirigíamos montanha acima, parte da lava da erupção ocorrida meras semanas antes ainda estava esfriando. Não foi difícil entender a mensagem nas entrelinhas: este carro foi feito para ser intimidante. Manuseie com cuidado.

Que é o que faz do LP670-4 SV tamanha surpresa. Ele é o mais leve, mais potente e mais rápido Murciélago já construído. Ainda assim, ele permite a nós, meros mortais, chegar mais perto de seu verdadeiro limite de monstruoso desempenho do que qualquer bólido já feito pela Lamborghini. Se alguma flecha baixa de US$ 450 mil (R$ 787.500), 670 cv e 340 km/h com um canhão de testosterona pudesse ser chamado de gracinha, seria essa. Bem, até certo ponto.

Julia LaPalme

O SV pode parecer um Murciélago normal com alguns traços de estilo do caríssimo Reventon, mas as mudanças neste carro vão bem além da aparência. O Murciélago tradicional é feito de combinação de compostos de carbono e aço tubular. No SV, as partes de metal foram refeitas com aço perfilado de altíssima resistência que elevou a rigidez torcional em 12% e economizou uns 20 kg. O novo sistema de escape economiza outros 25 kg.


O interior feito à mão é todo em fibra de carbono e couro alcântara (que a Lamborghini afirma ser mais leve que o couro normal) e tem assentos esportivos leves que abraçam a cintura, resultando em 33 kg a menos. Os para-lamas dianteiros, painéis laterais traseiros, tampa do motor e os novos detalhes aerodinâmicos, incluindo o spoiler dianteiro e a enorme asa Aeropack (um opcional de sete mil dólares que reduz a velocidade máxima para 336 km/h, mas cola o carro no chão) são feitos de fibra de carbono. Junto com a eliminação do motor da asa traseira móvel (um pequeno spoiler fixo é padrão no SV), essas mudanças ajudam a eliminar 12 kg. O SV pisa na balança 97 kg mais leve que um Murciélago normal. Mas, com seu tanque de combustível gigante de 100 litros, ele ainda pesa substanciais 1713 kg.

Julia  LaPalme

O carismático motor 6.5 litros de 12 cilindros em V de 60 graus da Lamborghini recebeu um acréscimo de 30 cavalos por conta de um sistema de admissão modificado e da otimização do trem de válvulas. Essa máquina poderosa agora produz 661 cavalos americanos (ou 670 cavalos europeus, daí o nome) a estridentes 8000 rpm e 67 mkgf de torque a 6500 rpm. O motor impulsiona as quatro rodas através da transmissão manual de seis marchas, acionada com a alavanca tradicional ou com o sistema E-Gear de embreagem simples e diferenciais de deslizamento limitado frontal e traseiro. O acoplamento viscoso central manda até 35% do torque para as rodas da frente.


A natureza explosiva do V12 e as relações de marchas relativamente longas paparicam para enganar: inicialmente, o SV parece forte, mas não embasbacante. Uma vez que o contagiros passa dos 5000 rpm, porém, é como se alguém tivesse ligado os motores de um caça a jato: há um forte empurrão entre os ombros e a sonora nota do escapamento ganha um tom mais excitante. Em 7500 rotações, é como se a trilha sonora de Le Mans estivesse sendo tocada por uma parede de amplificadores colocada logo atrás da sua cabeça e, à medida que o horizonte corre em sua direção, você se prepara para golpear a borboleta de subida de marcha antes de o motor esbarrar no limitador de giros.

 Divulgação

Com o controle de largada ligado, o LP670-4 SV equipado com o E-Gear catapulta até 100 km/h em apenas 3,2 segundos. O quarto de milha é deixado para trás em 11,4 segundos a 202 km/h. Isso é mais ou menos o que se esperaria desse carro. O que não é de se esperar é o que ocorre quando você galopeia com o LP670-4 SV por uma estrada sinuosa. Rápidas mudanças de direção e elevação, com curvas fechadas mergulhando e subindo e se chicoteando para todas as direções; este não é o território tradicional do Murciélago. Mas o SV devora essas estradas, ziguezagueando como Garrincha no auge, acelerando forte nas tangências e dançando nos trechos mais irregulares com compostura exempla

Julia LaPalme

Você só precisa das duas primeiras marchas para apavorar a maioria das estradas sinuosas – a segunda vai levá-lo além dos 175 km/h – e, se você conseguir alcançar a quarta marcha em um trecho reto, você está se aproximando dos 305 km/h. Bem rápido. Felizmente, os enormes freios de cerâmica estão mais que aptos para lidar com isso. Basta afundar o pé no pedal que o SV vai deixá-lo pendurado no cinto de segurança conforme a velocidade se esvai como se você tivesse ativado o freio aerodinâmico em um dragster (de 100 km/h até a parada total, levamos apenas 29,87 metros). Inicialmente, há mais saída de frente do que se gostaria em curvas travadas de baixa velocidade conforme a tração integral luta para otimizar a distribuição do torque, mas a direção é impressionantemente comunicativa para um carro com tração nas quatro rodas. Pode-se sentir exatamente o que se passa no ponto de contato do pneu dianteiro com o asfalto e ajustar suas reações de acordo.


Julia  LaPalme

Quando as velocidades de curva sobem, um equilíbrio de outro mundo toma conta do chassi à medida que trem de força, aerodinâmica e suspensão começam a trabalhar em perfeita harmonia. O SV estilinga em curvas de 80 km/h no dobro dessa velocidade, dando a impressão que está parafusado à pista, se comunicando com você o tempo todo – e, pela primeira vez em um Murciélago, não são sussurros ameaçadores de lesão corporal grave. Você nunca sente que está a ponto de ser atropelado pelo enorme V12 atrás de você no meio da curva, mesmo se você precisar pisar mais fundo ou a inclinação da pista mudar repentinamente. Ficou para trás o temperamento ameaçador que sempre fez do Murciélago – e o Diablo e o Countach antes dele – um dos mais traiçoeiros supercarros para se dirigir rápido. Você não precisa temer o LP670-4 SV. Você pode confiar nele.


É difícil acreditar que o Lamborghini Murciélago já tem oito anos de idade. O desenho dramático de Luc Donckerwolcke ainda se parece mais com o século 21 do que qualquer coisa que a Ferrari já fez desde a Enzo. Mas, em outros aspectos, a idade começa a pesar. Os mostradores são difíceis de ler, alguns dos controles são de baixa qualidade com o toque de plástico e a unidade central Kenwood, que também serve de tela para a câmera de ré opcional de US$ 4.350 (que nós escolheríamos; uma coisa que não mudou desde o Countach é a falta de visibilidade traseira) e o sistema de navegação de US$ 4.900 (que nós desprezaríamos, juntamente com o sistema de som) parecem algo que se encontraria em uma loja automotiva de shopping em vez de em um carro que custa perto de meio milhão de dólares. O interior feito à mão tinha algumas rugas no forro do teto em couro alcântara e havia um ruído que vinha de trás do revestimento em fibra de carbono da porta do motorista.

Julia LaPalme

A maior fraqueza do carro, porém, é a transmissão manual de embreagem simples ativada eletronicamente. Mesmo o modo Corsa (que não tem relação com o carro da GM) é mais lento que os melhores câmbios manuais de embreagem dupla atuais, com muito mais variação na qualidade das trocas – passar de primeira para segunda ou de segunda para terceira de pé embaixo dá um tranco mais forte que um cruzado de direita de Mike Tyson – e você vai poder fazer apenas um punhado de arrancadas com o controle de largada ligado antes de a embreagem pedir água e precisar descansar.

O sistema E-Gear ainda é mais rápido que um câmbio manual tradicional quando se dirige o SV forte – os pilotos de teste da Lamborghini o preferem – mas você precisa se lembrar de tratar as borboletas como peças que movem partes de metal de verdade em vez de controles de videogame. Aliviar ligeiramente o acelerador em subidas de marchas fortes ajuda a amaciar o salto para frente.

Por tudo isso, é difícil não amar o Lamborghini Murciélago LP670-4 SuperVeloce. Sim, há supercarros tecnicamente melhores por aí. E, sim, ele é estupidamente caro – nosso carro de testes custava dolorosos US$ 480.325 (cerca de R$ 840.570) e ele não é quatro vezes melhor que um Corvette ZR1. Mas não há nada – nada – nas estradas com a presença de palco pura deste Murciélago. Ele parece um supercarro. Ele soa como um supercarro. E ele faz o motorista se sentir como o Super-Homem.

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