quinta-feira, 24 de junho de 2010

Peugeot Hoggar enfrenta Saveiro e Strada

Pela primeira vez, uma marca de fora do clube das quatro grandes entra na disputa entre as picapes pequenas

Ivan Carneiro
Para quem gosta de adereços off-road, a Peugeot e a Fiat não economizaram na fantasia
As marcas conhecidas como “newcomers”, que instalaram fábricas no Brasil a partir da metade dos anos 90, entraram em todos os segmentos de mercado que antes eram cativos das quatro montadoras mais tradicionais (VW, GM, Ford e Fiat). Restava um último bastião a ser invadido: o das picapinhas, um tipo de veículo que só faz sucesso no Brasil. Restava, pois a Peugeot acaba de entrar de penetra na festinha restrita de Strada, Saveiro, Montana e Courier. E ela pode não ser a única, já que outra francesa, a Renault, também está de olho nesse filão que tanto agradam ao público jovem.

A novata Peugeot Hoggar (pronuncia-se ogárr, mas todos chamarão de rôgar) chega com pretensões até modestas – emplacar 1.500 unidades por mês, volume suficiente para superar apenas a envelhecida Courier. Mas não deixa de ser a primeira ameaça “alienígena” nesse importante segmento. Por isso convocamos a líder Fiat Strada Adventure (R$ 47.240) e a recém-lançada VW Saveiro Cross (R$ 42.380) para recepcionar a Hoggar Escapade (R$ 43.500), versão aventureira da picapinha derivada do 207. A Chevrolet Montana ficou de fora porque vai mudar radicalmente no segundo semestre (vai derivar do Agile). E a Courier está abandonada à própria sorte pela Ford, e faz tempo.

Ivan Carneiro
Na terra, a Strada garante mais segurança nas aventuras
Começando pela “intrusa”, ela chega às lojas com certo atraso em relação aos outros membros da família 207 (hatch, sedã e perua). A expectativa era que chegasse no ano passado, mas os testes se prolongaram por três anos, mais do que o planejado. Logo, não se pode reclamar que a Peugeot desenvolveu o carro às pressas. Nem que a marca francesa seja inexperiente no segmento. Muitos se lembram da picape média 504 que foi importada da Argentina no começo dos anos 90. Ela era voltada para o trabalho pesado (levava 1,3 tonelada) e tinha motor a diesel. Além dela, a Peugeot tem longa tradição no ramo de furgões, como o Partner e o Boxer.

Falando em Partner (que chega renovado em junho, em versões de carga e de passageiros), foi dele que a Peugeot tomou emprestada a base e a suspensão traseiras, com barras de torção transversais e barra estabilizadora. A frente mantém a base e a suspensão da linha 207. Seu comportamento lembra muito mais o da Saveiro que o da Strada, a única do trio que tem mola parabólica na traseira. Se a Strada aguenta melhor o tranco na terra (pela suspensão, maior altura e bloqueio do diferencial dianteiro), no asfalto ela tende a ser mais cabrita que as duas rivais. Saveiro e Hoggar têm mais pegada de carro de passeio.

Ivan Carneiro
Ivan Carneiro
Mas vamos falar sobre o cartão de visitas da Hoggar, que é seu visual externo. Nesse aspecto ela está mais para o estilo espalhafatoso da Strada do que para a quase sobriedade da Saveiro. A enorme peça prateada que faz as vezes de quebra-mato rouba a cena na parte dianteira. As barras no teto e o rack (de dimensões exageradas) também são de cor prata. Já os frisos laterais e as proteções dos para-lamas são de plástico preto; as de trás, também muito exageradas. A Peugeot foi pouco modesta no tamanho das lanternas traseiras, que têm três gomos de luzes e invadem bastante as laterais. A tampa da caçamba tem na base uma área preta com a inscrição “Escapade” e um friso preto na altura da maçaneta. Esta tem trava e um sistema de acesso ao estepe inferior igual ao da Saveiro: o dispositivo só é acessado com a tampa aberta, o que dificulta a ação de larápios. Só a Strada tem opção de estepe na cabine ou na caçamba.

Por falar em caçamba, a Hoggar chega disposta a intimidar a concorrência, com seus 1.151 litros de capacidade. Em matéria de espaço para carga não tem para nenhuma das concorrentes. Quem der uma olhada nas fotos verá que as caixas de roda praticamente não roubam espaço da caçamba, que tem boa profundidade também. Graças à plataforma híbrida (207/Partner), a Peugeot conseguiu esticar bastante o balanço traseiro, mesmo que o efeito estético não tenha ficado tão harmonioso. Outra vantagem é que a tampa traseira pode ser removida, a exemplo de Montana e Courier.

Se na caçamba sobra espaço, na cabine a coisa muda de figura. A Hoggar não tem, nem terá, opção de cabine estendida. A exemplo da Montana, ela tenta aproveitar como pode o espaço da cabine simples, mas o máximo que conseguiu foi uma área para algumas bolsas, maletas e sacolas – de difícil acesso e que se reduz bastante se os dois ocupantes forem altos. Opcionalmente, há redes laterais e traseira, para pequenos objetos não viajarem soltos atrás dos bancos.

Ivan  Carneiro
Saveiro vende quase 5 mil, Strada quase 10 mil, enquanto a Hoggar pretende emplacar 1,5 mil carros por mês
Saveiro e Strada têm cabine estendida, com muito mais espaço para guardar coisas dentro do carro. Com elas, quase dá para fazer compras do mês no supermercado. Na Hoggar, só algumas sacolinhas. Já que estamos a bordo dela, a caracterização interior é muito parecida com o restante da linha 207, de muito bom gosto. Mas ela traz também as falhas de um projeto já antigo (a origem é o velho 206), como os pedais próximos e de curso muito longo, ou os comandos de janelas e retrovisores próximos ao freio de mão. Pedais de curso longo também incomodam na Strada e na Saveiro.

Na Hoggar o motorista pode regular o banco e a coluna de direção em altura. Em termos de acomodação, a Saveiro é insuperável, pois inclui regulagem de profundidade na coluna. Em compensação, a VW é a que tem acabamento mais acanhado e a pior visibilidade traseira (por isso compensa com sensores de estacionamento de série. Ar-condicionado nela é opcional. A Strada tem a pior posição de dirigir, por causa do banco muito alto. Há alguns toques de modernidade na picape Peugeot, que teve o desenvolvimento todo feito no Brasil. A Hoggar copiou os degraus na caçamba da Montana e da Saveiro, mas inovou ao fazer deles um escape para o ar da cabine. Outra novidade é o sistema de direção hidráulica com uma serpentina para arrefecimento do óleo.

Ivan Carneiro
Caçamba da Saveiro cabe 734 litros e da Strada acomoda 803 litros. A da Peugeot é a maior da categoria: 1.151 litros
Na pista, a Hoggar Escapade mostrou que está bem servida com seu motor 1.6 16V. Venceu em aceleração e empatou em retomadas com a Strada, e foi a mais econômica na cidade e na estrada. Tudo isso sendo a mais pesada do trio. O motor 1.6 8V da Saveiro já pede uma evolução (o peso extra da Cross fez consumo e desempenho piorarem em relação à Trooper), e o velho 1.8 de origem GM caminha para a aposentadoria nos carros da Fiat (embora seu bom torque em baixa seja interessante para as aplicações da Strada). A Peugeot foi também de longe a mais silenciosa, mesmo sem ter o bacana recurso da janelinha traseira no mesmo nível dos vidros fixos, como a Saveiro. Só deu vexame nas frenagens por não contar com freios ABS, nem como item opcional – algo inadmissível para a versão topo de linha de um modelo lançado a essa altura do século 21.


Ivan Carneiro
Acabamento da Saveiro não tem muito esmero, enquanto Strada tem instrumentos de navegação e da Hoggar é o mais bonito

FONTE - REVISTA AUTO ESPORTE

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