quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fusca, o carro do povo

Confira o teste publicado pela revista Autoesporte em 1969

Ed Globo

Ele deixou marcas profundas na memória dos brasileiros. Para muitos, se tornou marcante pura e simplesmente por ter sido o companheiro das primeiras aulas ao volante. Para outros tantos, foi o inesquecível primeiro carro e também deixou a imagem de modelo robusto, quase inquebrável – e, quando quebrava, mostrava que oferecia manutenção fácil e barata.

Quem conhece um pouco da história dos clássicos nacionais já matou a charada: estamos, sim, falando do bom e velho Fusca. Esse ícone da Volkswagen esteve presente em muitas ocasiões nas páginas de Autoesporte. A chegada da linha 1969, por exemplo, mereceu destaque na revista. O primeiro ponto elogiado foi o fôlego extra do motor 1.300 (que passou a equipar o VW em 1967) em relação ao antigo boxer 1.200. “Quanto à flexibilidade, melhorou consideravelmente, apresentando torque bem maior, que o motorista notará, com facilidade e agrado, pois anteriormente usando 1ª, 2ª e 3ª, com o 1.300 usará 2ª, 3ª e 4ª.”

Por outro lado, a reportagem comentava o quanto a gasolina nacional, de baixa qualidade desde sempre, prejudicou o desempenho do Fusca na comparação com o modelo fabricado na Alemanha. Para contornar o problema, a montadora reduziu a taxa de compressão e adotou um carburador maior. Mesmo assim, não deu para fazer milagre! Enquanto o Besouro de lá acelerava de 0 a 100 km/h em 24,5 segundos, o nosso levava 35,3 segundos para atingir a mesma marca. Já a velocidade máxima ficava, respectivamente, em 126 km/h e 115,02 km/h.

Ed Globo

A suavidade da embreagem foi elogiada, mas alguns pontos da transmissão mereceram observações bem diferentes. “O câmbio tem boa precisão de engate e ótima sincronização, porém o conjunto câmbio-diferencial ronca um pouco mais que o razoável.” No mais, elogio aos freios e uma recomendação de atenção nas estradas, já que o Fusquinha apresentava tendência de sair de traseira nas curvas.

O Besouro em nossas ruas

A história desse mítico Volkswagen no Brasil surgiu do interesse do empresário José Bastos Thompson, proprietário da Brasmotor, que comercializada veículos Chrysler. Ele pretendia oferecer, também, o carrinho alemão. Depois de fechar negócio com a montadora, a empresa nacional vendeu o primeiro modelo para o paulista Rodolfo Maer, isso em 1950.

Como o empresário havia previsto, o interesse pelo Besouro foi aumentando e, para atender à demanda, a própria VW instalou uma linha de montagem do modelo, no bairro paulistano do Ipiranga, em 1953 – as duas empresas se dedicaram ao negócio, mas logo a Brasmotor se retirou da parceria. Até 1957, 2.268 Fuscas foram montados nessa linha. A partir daí, as operações da VW foram transferidas para a nova fábrica, na via Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP).

Ed Globo

Lá, a produção do Fusca só começou em janeiro de 1959, com índice de nacionalização de peças de 54%. O primeiro modelo produzido na fábrica da Anchieta foi adquirido por Eduardo Andrea Matarazzo. Daí em diante, a história de amor desse modelo de carroceria cheia de curvas com o consumidor brasileiro foi ficando mais e mais intensa.

Ed Globo

Ao longo dos anos, o Besouro foi ganhando uma série de avanços, como trava de direção e barra de direção com lubrificação automática em 1965, motor 1.300 e vidro traseiro 20% maior em 1967, mudança do sistema elétrico de seis para 12 volts em 68, lançamento do “Fuscão” 1.500 e oferta de freios a disco como opcionais em 70, novos carburadores e faróis em 73, lançamento do “Super Fuscão” 1.600 em 74, volante de polipropileno texturizado e lanternas “Fafá” em 79, novo logotipo com o nome Fusca em 83 (oficializado pela montadora) e bancos com espuma de poliuretano e forração de tecido para as portas em 85.

Com a queda nas vendas, a produção do carrinho foi interrompida no dia 07 de dezembro de 1986. Isso até o então presidente Itamar Franco declarar sua paixão pelo modelo e pedir sua volta à Volkswagen, ou melhor, à Autolatina, que decidiu investir na idéia.

Em 23 de agosto de 1993 o Fusca ressurge no País, equipado com motor 1.6, catalisador, freios hidráulicos de duplo circuito e sistema de trava dupla do capô, entre outros itens. Com tantos modelos modernos e a ascensão dos veículos 1.0, o bom e velho Besouro ficou deslocado no mercado. Em 1996, o lançamento do Fusca Ouro, com uma série de equipamentos, já era um prenúncio da despedida definitiva. O bravo modelo com motor a ar, sucesso do pós-guerra, cravou a marca de 3,1 milhões de unidades vendidas no País.


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